RIVANE NEUENSCHWANDER

Rivane Neuenschwander Maciel Guimarães estudou desenhos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 1989 e 1994. Em 1992, faz sua primeira exposição individual na Itaú Galeria de Belo Horizonte e de São Paulo. Recebe, em 1993, o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia pelo projeto Ex-Votos, Objetos Fotográficos, realizado na Fundação Nacional de Arte – Funarte, Rio de Janeiro. Em 1996, é premiada no projeto Antarctica Artes com a Folha juntamente com Marepe e Cabelo (1967). É artista residente do Royal College of Art, em Londres, entre 1996 e 1998. Participa da 24ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1998. No mesmo ano, é diretora de arte do curta-metragem Otto, Eu Sou um Outro, com direção de Lucas Bambozzi (1965) e Cao Guimarães. É artista residente do International Artists Studio Program in Sweden (Iaspis), em Estocolmo, Suécia, em 1999. Em parceria com Cao Guimarães, dirige os vídeos experimentais Sopro (2000) e Word/World (2001). Em 2001, recebe prêmio da ArtPace Foundation, sediada em Santo Antonio, Estados Unidos. Participa da Bienal Internacional de Veneza em 2003 e em 2004, e da 27ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2006.

Os primeiros trabalhos de Rivane Neuenschwander, para a crítica de arte Lisette Lagnado, consistem de desenhos espaciais. Cria obras de textura leve e diáfana, utilizando materiais como plásticos, cascas de alho ou pétalas. Em suas obras, a artista trabalha com base em uma subjetividade fundada na ideia de transformação das coisas. Elabora, assim, uma resistência silenciosa às mínimas destruições que ocorrem no cotidiano. Em instalação que realiza para a Bienal Internacional de São Paulo, a artista constrói duas habitações similares, cúbicas e totalmente brancas. Nas paredes e no chão prega fragmentos de plástico autoadesivo, quadrados de 50 x 50 cm, que contêm diversos resíduos, como migalhas de pão, cabelos, pedaços de cebola e poeira do chão de sua casa em Londres. Seu propósito é que, ao permitir que os espectadores transitem por esses lugares, transponham os resíduos por todo o espaço expositivo. Para a estudiosa Rosa Martinez, a artista contrapõe a geometria relacionada à sujeira do espaço doméstico aos itinerários ao acaso realizados pelo público e proporciona uma reflexão sobre as interferências e as interações entre o pessoal e o público. Em outros trabalhos, utiliza pratos de porcelana branca, nos quais combina elementos orgânicos, como asas de vespas, óleo de soja, água e sementes com materiais industriais, como o silicone e o plástico, compondo na superfície do prato linhas e formas definidas pela justaposição dos diferentes materiais. Já em Cartografia Faminta (2000) expõe desenhos que surgem no papel após ele ter sido comido por lesmas. A artista interfere na obra, orientando as lesmas por meio de sombras sobre o papel, resultando em imagens que se aproximam de um mapa. Para Martinez, em cada um dos trabalhos de Rivane Neuenschwander há uma carga de profundidade, de sentidos latentes e vontade de criar beleza de materiais e procedimentos contemporâneos.

Críticas

“Os trabalhos de Rivane Neuenschwander são celebrações. São ornamentos para possíveis rituais sagrados. A celebração do encontro do pano de prato com o óleo de cozinha. A lenta escalada do mofo em um pano de chão à deriva. A solidão de um vestido de noiva numa sala branca. A comunhão dos esquecidos embalsamados de não existência. A catarse sublunar nas entrelinhas do mundo. Unção dos enfermos. A extrema-unção. Deslocar o significado das coisas. Privilegiar informações subcutâneas. Decifrar a célula do pano. O fazer nevrálgico e obsessivo se contrapõe à delicadeza do que vai se configurando. A matéria é arrendada e estilhaçada em milhares de partículas. O fogo é o desnudamento e a cola. O fogo é a amnésia da primeira forma. Células peregrinas se agregam como uma dança tribal. A convergência das tribos é arqueologia da forma. Uma congregação de ninharias funda uma nova ordem. Um acúmulo de calor gera uma morte sem dor: eutanásia. Impregnados pela fumaça de um turíbulo, emitindo códigos como fogo-fátuo, aliciados pela singeleza da trama, os objetos calam seu passado abjeto”.

Cao Guimarães

Guimarães, Cao. In: Abjeto. Belo Horizonte: Centro Cultural da UFMG, 1994 p. 29.

“No início Rivane confeccionava os seus próprios vodus, mas percebeu que o ato de comprá-los já prontos se adequaria melhor à potencialização desejada dos materiais. A seguir veio a preocupação escultórica, com a estruturação de novas formas. Suas rendas costuradas/queimadas com incenso e penduradas no teto se transformam em um ´móbile penetrável e orgânico´, que remete a uma interiorana latada de buchas. Rivane trabalha assim com resgates de um passado seu e de uma memória coletiva. São repetições sem fim, como os pontos de uma costura, que ligam sua vivência pessoal a uma teia maior, feminina e barroca”.

Celso Fioravante

Fioravante, Celso. Rivane exibe seu barroco mínimo. Folha de S. Paulo. Ilustrada, 02 jul. 1996, p. 4-8.

“A narração é um exercício incessante contra a morte. Usando texturas que são leves e diáfanas (plásticos, cascas de alho, pétalas), a artista desenvolve uma resistência silenciosa contra as mínimas destruições que acontecem no dia-a-dia. Rivane chega, com grande ousadia e beleza, tecendo a memória da vida cotidiana que passa desperdiçada. Entre o espiritual e o temporal (uma herança barroca), este trabalho em relevo evoca uma paciência que tece seu tecido no infinito. É como se a artista estivesse afirmando que a vida real consiste na parte que está ausente. Daí seu desejo, um desejo insaciável por um vazio que é mais metafísico do que íntimo”.

Lisette Lagnado

Lagnado, Lisette. Imersão no tempo: sobre o trabalho de Rivane Neuenschwander. São Paulo, jun. 1997. Texto traduzido.

Exposições Individuais

1992 – Belo Horizonte MG – Individual, na Itaugaleria

1992 – São Paulo SP – Individual, na Itaugaleria

1996 – São Paulo SP – Individual, na Casa Triângulo

1997 – Londres (Inglaterra) – Individual, na Stephen Friedman Gallery

1999 – Londres (Inglaterra) – Individual, na Stephen Friedman Gallery

2000 – Dublin (Irlanda) – Individual, na Douglas Hyde Gallery

2000 – Estocolmo (Suécia) – Syndrome: Rivane Neuenschwander, no International Artist’s Studio Program in Sweden

2000 – São Paulo SP – Individual, na Galeria Camargo Vilaça

2001 – Londres (Inglaterra) – Individual, na Stephen Friedman Gallery

2001 – Nova York (Estados Unidos) – Individual, no The Americas Society

2001 – Texas (Estados Unidos) – Individual, no Artpace Foundation

2002 – Belo Horizonte MG – Individual, no MAP

2002 – Paris (França) – Individual, no Palais de Tokyo

2003 – São Paulo SP – Individual, na Galeria Fortes Vilaça

Exposições Coletivas

1989 – Belo Horizonte MG – 21º Salão Nacional de Arte, no MAP

1989 – Belo Horizonte MG – 8º Salão de Arte Universitária, na UFMG

1990 – Belo Horizonte MG – 1.000 Metros de Arte, no MAP

1990 – Belo Horizonte MG – 22º Salão Nacional de Arte, no MAP

1991 – Belo Horizonte MG – 15.000 kg, no Palácio das Artes

1992 – Belo Horizonte MG – Utopias Contemporâneas, no Palácio das Artes

1993 – Belo Horizonte MG – A Linha do Espaço, no Museu Mineiro

1993 – Belo Horizonte MG – Estandartes, no Parque Municipal

1993 – Rio de Janeiro RJ – 13º Salão Nacional de Artes Plásticas – Prêmio Marc Ferrez de Fotografia

1994 – Belo Horizonte MG – Abjeto, no Centro Cultural da UFMG

1994 – Ouro Preto MG – A Identidade Virtual: a pedra sabão, no Museu da Inconfidência

1994 – Porto Alegre RS – Arte Contra Aids, no Margs

1994 – São Paulo SP – Acervo 94, na Galeria Casa Triângulo

1994 – São Paulo SP – Imagem Não Virtual, na Galeria Casa Triângulo

1995 – Belo Horizonte MG – Guaicurus, no Galpão do Centro Cultural da UFMG

1995 – Belo Horizonte MG – Hic Manebimus op Time, na Galeria de Arte Manoel Macedo

1995 – Niterói RJ – Rubinho-Neuenschwander-Freire-Barachini, no Centro de Artes da UFF

1995 – Rio de Janeiro RJ – A Infância Perversa: fábulas sobre a memória e o tempo, no MAM/RJ

1995 – Salvador BA – A Infância Perversa: fábulas sobre a memória e o tempo, no MAM/BA

1995 – São Paulo SP – Amanhã, Hoje: a Casa Triângulo de 1988 a 1995, no MAB Salão Cultural

1996 – Belo Horizonte MG – Cercanias, na Gesto Gráfico

1996 – Buenos Aires (Argentina) – Latino América 96, no Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires

1996 – São Paulo SP – Antarctica Artes com a Folha, no Pavilhão Manoel da Nóbrega

1997 – Istambul (Turquia) – 5ª Bienal Internacional de Istambul

1997 – Johanesburgo (África do Sul) – 2ª Bienal de Johanesburgo

1997 – Madri (Espanha) – Arco Contemporary Art Fair, no Recinto Ferial Juan Carlos I

1997 – Sydney (Austrália) – Material Immaterial, na The Art Gallery of New South Wales

1998 – Nova York (Estados Unidos) – Bili Bidjoka, Los carpinteros, Rivane Neuenschwander, no New Museum of Contemporary Art

1998 – São Paulo SP – 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1999 – Berlin (Alemanha) – Au Dela’, na Galerie Klosterfeld

1999 – Colorado (Estados Unidos) – Powder, no The Aspen Art Museum

1999 – Liverpool (Inglaterra) – 1st Liverpool Biennial of Contemporary Art, no Exchange Flags

1999 – Novo México NM (Estados Unidos) – Looking for a Place, The Third International Biennal

1999 – São Paulo SP – Cotidiano/Arte: O Objeto – Anos 90, no Itaú Cultural

1999 – Yokahama (Japão) – Luminous Mischief, no Yokahama Portside Gallery

1999 – Bergen (Noruega) – Calming The Clouds, na Foudation 3,14

2000 – Buenos Aires (Argentina) – Brasil: plural y singular, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires

2000 – Curitiba PR – Imagens em Questão, na Galeria da Caixa Econômica Federal

2000 – Curitiba PR – 12º Mostra da Gravura de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma

2000 – Estocolmo (Suécia) – Syndrome: disappear, no International Artist’s Studio Program in Sweden

2000 – Limerick (Irlanda) – Friends and Neighbors, na Limerick City Gallery of Art

2000 – Madri (Espanha) – No es sólo lo que ves: pervirtiendo el minimalismo

2000 – Osaka (Japão) – Space experiences: Homage to The National Museum of Art

2000 – Salvador BA – A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA

2000 – São Paulo SP – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal

2000 – São Paulo SP – Fim de Milênio: os anos 90 no MAM, no MAM/SP

2001 – São Paulo SP – 2º Prêmio Sérgio Motta

2001 – São Paulo SP – Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural

2001 – São Paulo SP – 27º Panorama da Arte Brasileria, no MAM/SP

2001 – Rio de Janeiro RJ – Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial

2001 – São Paulo SP – Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP

2002 – Belo Horizonte MG – 100 Anos do Poeta Carlos Drummond de Andrade, no Palácio das Artes

2002 – Liverpool (Inglaterra) – Pot

2002 – Londres (Inglaterra) – Vivências: dialogues between the works of Brazilian artists from the 1960s to 2002, no New Art Gallery Walsall

2002 – Rio de Janeiro RJ – Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial

2002 – Salvador BA – 27º Panorama de Arte Brasileria, no MAM/BA

2002 – São Paulo SP – In Situ: arte e tecnologia, no Instituto Cine Cultural

2002 – São Paulo SP – Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo

2002 – São Paulo SP – Pot, na Galeria Fortes Vilaça

2002 – São Paulo SP – Rotativa Fase 2, na Galeria Fortes Vilaça

2002 – Rio de Janeiro RJ – 27º Panorama de Arte Brasileria, no MAM/RJ

2003 – Recife PE – Ernesto Neto e Rivane Neuenschwander, no Margs

2003 – São Paulo SP – A Nova Geometria, no Galeria Fortes Vilaça

2003 – São Paulo SP – Modos de Usar, na Galeria Vermelho

2003 – Veneza (Itália) – 50ª Bienal de Veneza, no Arsenale e Giardini della Biennale

2004 – Belo Horizonte MG – Pampulha, Obra Colecionada: 1943-2003, no MAP

2004 – Rio de Janeiro RJ – Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ

2004 – Rio de Janeiro RJ – Novas Aquisições 2003: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ

2004 – São Paulo SP – Bazar de Verão, na Galeria Fortes Vilaça

2004 – São Paulo SP – Derivas, na Galeria Vermelho